O machismo é o preconceito mais presente no Brasil. Para combater o problema, as empresas precisam se envolver nessa discussão.
“Você está de TPM?” “Não vai começar a chorar, hein?” “A maternidade atrasa a carreira.”
Essas são algumas das afirmações que muitas profissionais já ouviram em seu trabalho, de acordo com o levantamento da reportagem de VOCÊ S/A e de Angela Christina Lucas, que ouviu mulheres e executivos de RH durante sua tese sobre o papel dessa área na desigualdade de gênero nas empresas, apresentada para a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da Universidade de São Paulo, em 2015.
Para alguns, essas frases não têm nada demais. E esse pensamento comprova que existe machismo, mesmo que invisível. “Isso transforma o ambiente organizacional num lugar que desrespeita e afasta as mulheres, além de causar danos físicos e psicológicos nas situações mais graves”, afirma Angela, que também é professora no Centro Universitário FEI, de São Paulo.
Ouvir coisas como essas todos os dias — seja direcionadas para si própria, seja para as colegas — é, no mínimo, cansativo e pode levar a um quadro de assédio moral ou sexual. Afinal, o constrangimento não é de quem fala, mas de quem escuta. “Apenas quem é constrangido pode dizer se se sente desrespeitado ou não”, afirma Marina Ruzzi, do escritório de advocacia Braga e Ruzzi, voltado para mulheres, de São Paulo.
Brincadeiras nada inocentes
O problema é que mudar isso não é simples, pois essas “gracinhas” estão arraigadas na sociedade brasileira. Uma pesquisa de 2017, realizada em parceria entre a Skol e o Ibope com 2 002 pessoas, revelou que o preconceito mais presente é mesmo o machismo. De acordo com o levantamento, 66% dos homens já disseram frases sexistas e 57% das mulheres fizeram comentários assim. A mais usada é: “Mulher tem de se dar ao respeito”.
Nas empresas, esse comportamento é traduzido em brincadeiras e pretensos elogios, que, para a maioria das profissionais, são interpretados como assédio. Em sua tese, Angela ouviu o seguinte depoimento: “Eu era estagiária e, além de ter a questão do cargo, tinha o fator gênero: era a única mulher em reuniões ao lado de vários gestores homens. Invariavelmente, um diretor fazia uma piada sexista e olhava para mim. Todo mundo ria”.
O machismo não é necessariamente uma conduta jurídica. O que se pode denunciar são os casos de assédio moral e assédio sexual. “Só que, quando as mulheres chegam a nós, já foram punidas por sua empresa”, afirma Ana Paula Braga, sócia no escritório Braga e Ruzzi.
Na prática, o que mais ocorre é a assediada ter de pedir demissão por não aguentar mais o constrangimento constante.
Por Débora Crivellaro, da VOCÊ S/A.
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