Responsáveis por 65% do Produto Interno Bruto (PIB) e 75% dos empregos do País, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pequenas empresas familiares raramente são longevas. O Índice Global de Empresas Familiares, da PwC, aponta que apenas 7% desses negócios chegam na quarta geração da família.
Especialistas apontam que, mais do que uma empresa familiar, os gestores devem se organizar enquanto família empresária e distinguir o que é gestão e patrimônio. Além disso, devem assegurar que a questão não cause fuga de talentos dentro do próprio negócio. Ainda segundo o IBGE, os negócios familiares, de todos os portes, são cerca de 90% dos negócios do Brasil.
A consultora para famílias empresárias e fundadora da Escola da Família Empresária, Juliana Costa Gonçalves, aponta que as pequenas empresas familiares têm de entender que uma família empresária possui mentalidade e maturidade para lidar com esse ambiente.
“Tem famílias que começam com um, dois, três fundadores e uma terceira geração tem vinte, trinta herdeiros. Isso significa uma complexidade das relações muito grande. Não é todo mundo que vai ter capacidade, vai querer trabalhar no negócio, não são todas as famílias que vão ter sucessores competentes”, explica.
Por isso, é preciso saber distinguir gestão e patrimônio. Os donos do patrimônio são todos os herdeiros que surgiram com as novas gerações, enquanto os líderes da gestão são aqueles que, dentro do grupo familiar, detém competência e desejo profissional e de vida para tocar o negócio da família.
“Você precisa saber diferenciar quem são as pessoas que têm competência, desejo para continuar à frente dos negócios e quem são as pessoas que vão estar à frente do patrimônio”, ressalta Juliana Costa. “Ambos os papéis precisam de qualificação, treinamento, precisa de se preparar para desempenhar”, completa.
A falta de preparo é comum nos principais idealizadores das pequenas empresas familiares, que muitas vezes optaram pelo empreendedorismo por uma questão de necessidade, afirma o professor e diretor da Faculdade Estácio e especialista em finanças, Alisson Batista.
“Abriu um pequeno negócio e com muita luta e esforço conseguiu trazer esse negócio para um desenvolvimento mais pleno. Mas isso não significa que os sucessores, ou seja, os filhos desse ou dessa idealizadora, vão ter o mesmo interesse pelo negócio”, declara.
Ele aponta que colocar nos cargos decisórios membros da família, algo comum em pequenas empresas familiares, que não detém preparação adequada pode fragilizar os empreendimentos. Os riscos vão além da tomada de decisão e passam pela insatisfação de outros profissionais que não veem possibilidade de crescimento dentro da empresa.
“A pessoa vê que o crescimento é limitado, não vai se preocupar em se especializar para crescer ali e acontece a fuga de capital humano para outras empresas, que possuem plano de cargos e salários, de carreira, onde a pessoa vai ter uma expectativa de crescimento”, explica Batista.
O especialista destaca também que pequenas empresas familiares têm uma sucessão muito fragilizada, já que o empreendedor costuma lidar com diversas funções do negócio ao mesmo tempo e o herdeiro fica desmotivado em suceder um negócio, ao observar o desgaste do familiar na atuação.
Esse herdeiro pode optar por auxiliar o negócio da família em um conselho de administração e nomear administradores para o lugar operacional, antes ocupado pelo antigo familiar.
Empresas familiares devem evitar gestão radical
Juliana Costa ressalta que um processo educacional de uma família empresária dá a oportunidade de refletir, na sucessão, sobre os diferentes papéis que os familiares podem ter dentro do ambiente empresarial. Outro ponto é inibir comportamentos extremistas na gestão.
“Não ser uma família que fala ‘aqui ninguém trabalha’, que acaba afastando as novas gerações. Também não ser uma família que ‘aqui todo mundo trabalha independente de qualquer coisa’, onde não estabelece critérios, regras, que vai estimular a nova geração a se qualificar para poder estar lá dentro”, aponta a consultora.
Fonte: Diário do Comércio.
Comments