Carolina Cassiano, cofundadora da Diálogos Corajosos, explica como lidar com pequenos problemas cotidianos utilizando técnicas da comunicação não violenta
A RAIZ DA FELICIDADE
> Durante 75 anos, quatro gerações de pesquisadores da Harvard conduziram o mais longevo estudo voltado a compreender o que faz com que uma pessoa seja feliz e saudável. Concluíram que ter bons relacionamentos com pessoas próximas é o que mais contribui para que se viva mais e melhor. Vale refletir: o que torna essas relações realmente “boas”?
O QUE NÃO FUNCIONA
> Em qualquer relacionamento, alguma hora o outro vai fazer algo de que você não gosta. A forma como você age nesses momentos pode ser a chave para cultivar ou enfraquecer relações. A maioria de nós aprendeu a agir de modo pouco funcional: ou engolindo sapos, com silêncios amargurados, ou expressando julgamentos e críticas. Por essas vias, saímos do conflito com cicatrizes e mais distantes uns dos outros. Menos felizes, talvez.
BUSCA POR RESPOSTAS
> Um antídoto a essa desconexão é reaprender a conversar — o que comecei a praticar nove anos atrás, quando conheci a comunicação não violenta (CNV), desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg. A teoria é simples, mas uma filosofia de vida disruptiva.
UM EXEMPLO
> Uma pessoa querida marca um jantar com você para as 20 horas, na sua casa. Ela não chega, você envia uma mensagem. Às 20h30, ela diz que ficou trabalhando, mas que já está a caminho. Ela chega às 22 horas.
DA CABEÇA PARA O CORAÇÃO
> Nos moldes convencionais, talvez você dissesse: “Pô, você me enrolou por duas horas? Você só se importa consigo mesmo!”. Esse padrão de diálogo coloca o foco no erro e em desferir críticas — o que só estimula que o outro contra-ataque, se feche ou se culpe. Mas você pode escolher outro caminho: pode pausar e observar seus pensamentos com curiosidade e distanciamento. E por quê?
NECESSIDADES BÁSICAS
> Quando algo estimula em você pensamentos críticos e sentimentos desagradáveis, é sinal de que alguma necessidade humana importante para você não foi atendida. Pode ser a necessidade de atenção, afeto, pertencimento, reconhecimento, segurança, autonomia, consideração (ou outras!).
Veja: todos nós temos essas necessidades, elas são universais, nossa humanidade compartilhada. E mora aqui a mágica para transformar conflitos: tomar consciência das necessidades em jogo quando algo mexe com você e expressar isso.
No jantar, talvez você quisesse comprometimento. E poderia revelar isso ao outro: “Você chegou às 22 horas e eu esperei desde as 20. Fiquei frustrada, porque quero cuidado com os combinados. Como é isso para você?”.
NOVO MUNDO
> Já vi e vivi conflitos enrijecidos que se dissolveram quando alguma das pessoas ousou deixar de lado a postura do “eu estou certo e vou te mostrar o porquê” para revelar seus sentimentos e necessidades, em uma fala corajosa, firme e vulnerável. E também quando se dispôs a enxergar o outro com empatia, vendo as necessidades que o motivaram a fazer o que fez, ainda que discorde.
Muitas vezes, esses desentendimentos acabam em mais confiança mútua do que antes. Imagine só: os inevitáveis conflitos catalisando relações mais verdadeiras e compassivas. É esse o mundo que quero, com esse tipo de felicidade. E ele é possível, eu sei. Quer vir?
Carolina Cassiano é cofundadora da Diálogos Corajosos (@dialogoscorajosos), ao lado de Sven Fröhlich. Eles já multiplicaram a comunicação não violenta entre mais de 9 500 pessoas. Uma lista de necessidades humanas universais pode ser acessada em bit.ly/CNVnecessidades.
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